Roteiro turístico de Lina Bo Bardi: descubra as influências da arquiteta no Brasil!
Ao explorar as ruas de São Paulo e Salvador, é impossível ignorar a presença marcante da renomada arquiteta ítalo-brasileira, Lina Bo Bardi.
Seus projetos inovadores e sua visão única da arquitetura deixaram uma herança que transcende o tempo e o espaço, moldando não apenas estruturas físicas, mas também a experiência das pessoas que as habitam.
Em nosso roteiro turístico, convidamos você a se aventurar por um itinerário que destaca as contribuições notáveis de Lina Bo Bardi em duas cidades fascinantes do Brasil: São Paulo e Salvador.
Embora amplamente reconhecida por suas obras icônicas na maior metrópole do país, a influência de Lina também se estende à capital da Bahia, onde suas ideias inovadoras deixaram uma marca duradoura na paisagem urbana e na cultura local.
São Paulo, a vibrante metrópole, foi o lar de algumas das criações mais emblemáticas de Lina, como o Museu de Arte de São Paulo (MASP), a Casa de Vidro e o Sesc Pompeia.
Cada uma dessas estruturas encapsula sua filosofia de "arquitetura humanizada", que priorizava o bem-estar das pessoas em todos os aspectos do design.
Já em Salvador, a arquiteta também deixou sua marca, participando ativamente da revitalização do Centro Histórico e contribuindo para a conexão entre a cultura popular e o design moderno.
Prepare-se para uma viagem fascinante que mergulha no legado de Lina Bo Bardi, explorando não apenas as estruturas que ela projetou, mas também a visão visionária que continua a inspirar e influenciar o cenário arquitetônico e cultural do Brasil e além.
Vamos começar esta emocionante jornada pela mente brilhante de uma das arquitetas mais influentes do século XX!
Quem foi Lina Bo Bardi?
Nascida em Roma em 1914, Lina Bo Bardi migrou para o Brasil em um período pós-Segunda Guerra Mundial, em que, inclusive, teve o seu estúdio bombardeado, trazendo consigo uma visão única de arquitetura.
Sua carreira começou a ganhar destaque quando trabalhou com o renomado arquiteto Giò Ponti em Milão.
No entanto, foi sua mudança para o Brasil que deu origem a algumas das obras mais icônicas da arquitetura brasileira.
Sua abordagem revolucionária da arquitetura, que ela chamava de "arquitetura humanizada", colocava o bem-estar das pessoas no centro de seu design, e suas realizações refletiam esse compromisso.
Lina foi a primeira mulher com cidadania brasileira a receber o Leão de Ouro, in memoriam, pelo seu conjunto de obras exibido na 17ª Biennale di Venezia, em 2021, que teve como tema o questionamento "Como viveremos juntos?".
O que caracteriza a arquitetura de Lina Bo Bardi?
A arquitetura de Lina Bo Bardi é muito mais do que uma expressão estética. É um testemunho vívido de uma filosofia profundamente humanizada que permeia suas criações.
Sua abordagem transcende o mero desenho de edifícios; ela encapsula uma visão de como a arquitetura deve interagir com as pessoas e seu entorno.
Lina acreditava que a arquitetura tinha a responsabilidade de melhorar a qualidade de vida das pessoas. Suas obras refletem essa convicção, pois eram concebidas com atenção meticulosa aos aspectos humanos.
Ela considerava o espaço não apenas como uma estrutura física, mas como um cenário para a vida humana - um lugar para se viver, trabalhar, criar, aprender e se conectar.
Um dos princípios fundamentais de sua arquitetura era a integração com a natureza. A Casa de Vidro, por exemplo, é um maravilhoso exemplo dessa simbiose entre construção e ambiente natural.
As paredes de vidro não apenas convidam a paisagem circundante para dentro da casa, mas também celebram a interação harmoniosa entre o homem e a natureza.
Além disso, Lina adotava uma abordagem inclusiva. Suas obras eram espaços abertos e acolhedores, projetados para promover a interação social.
Seja o vão livre do MASP, que se tornou um ponto de encontro público, ou o SESC Pompeia, que renovou um antigo complexo industrial para se tornar um centro de lazer e cultura, suas obras convidavam as pessoas a se apropriarem dos espaços.
Lina também desafiava convenções. Seus cavaletes de cristal no MASP, por exemplo, rompiam com a disposição tradicional de obras de arte, dando aos visitantes a liberdade de explorar o museu de maneira não linear.
Ela estava constantemente repensando a forma como os espaços poderiam ser usados e experimentados.
Em suma, a arquitetura de Lina Bo Bardi é marcada por uma profunda empatia pela condição humana, uma reverência à natureza, um espírito inclusivo e uma busca contínua pela inovação.
Neste roteiro, vamos explorar algumas das principais obras de Lina Bo Bardi em São Paulo, bem como sua influência em Salvador, na Bahia.
Você descobrirá como sua arquitetura não apenas redefiniu espaços urbanos, mas também promoveu uma conexão mais profunda entre a cultura popular e o design moderno.
Obras de Lina em São Paulo
A cidade de São Paulo, conhecida por sua grandiosidade e diversidade cultural, é também palco de uma rica história arquitetônica, na qual se destaca o legado da renomada arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi.
Lina não apenas moldou a paisagem urbana com suas icônicas obras, mas também deixou uma marca permanente na história da arquitetura modernista do Brasil.
Neste roteiro turístico, convidamos você a explorar as influências e realizações de Lina Bo Bardi em São Paulo:
1950 - Casa de Vidro
A Casa de Vidro, construída em 1950 pela arquiteta Lina Bo Bardi, é uma expressão marcante de sua visão arquitetônica.
Este foi seu primeiro projeto construído, e ele captura o que ela mais tarde aplicaria no MASP - Museu de Arte de São Paulo e no SESC Pompeia.
Localizada em um terreno de 7.000m², que era uma fazenda de chá no bairro do Morumbi, a Casa de Vidro é uma residência que serviu de lar para o casal Bardi por mais de 40 anos.
O nome "Casa de Vidro" provém de sua fachada, que parece flutuar sobre pilares e árvores, criando uma sensação única de integração com a natureza.
A essência da Casa de Vidro é a preocupação meticulosa de Lina com cada detalhe, todos projetados para aprimorar a qualidade de vida.
A sala de estar, com suas paredes transparentes, parece suspensa entre as árvores, enquanto um grande exemplar atravessa a construção, proporcionando uma experiência íntima com a natureza.
O piso de pastilhas azuis completa a sensação de flutuação, como móveis em um mar plácido. Este espaço não era apenas uma residência; era um local de encontros e reuniões para artistas, arquitetos e figuras influentes da época. A maioria dos móveis originais foi desenhada por Lina, tornando a casa um reflexo de seu estilo único.
Além de seu caráter social, a Casa de Vidro foi projetada para ser autossuficiente. As amplas janelas de vidro minimizavam a necessidade de luz elétrica durante o dia, enquanto árvores cuidadosamente posicionadas criavam sombra e mantinham a casa fresca.
A gestão de resíduos também era inovadora, com um sistema que transformava os restos de alimentos da cozinha em adubo para o jardim.
Hoje, a Casa de Vidro abriga o Instituto Bardi, dedicado a promover a arquitetura, design e arte popular, preservando assim o legado da arquiteta que a projetou, Lina Bo Bardi.
1964: Casa Valéria Cirell
Essa é uma residência projetada para uma amiga de Lina. Nesse projeto, Lina utiliza a arquitetura purista, com as formas geométricas puras e evitando o exagero, focando no simples.
Esse é também um momento de mudança na arquitetura de Lina, que se inspirou na sua viagem a Barcelona, na Espanha, em 1957, e nas obras de Gaudi.
A arquitetura orgânica também é evidenciada na Casa Cirell na ampla gama de materiais utilizados, incluindo aí a vegetação, como bromélias, musgos e parasitas que se fundem com as argamassas de muitas pedras, conchas e nichos de terra.
A casa foi reformada em 1970 e leiloada em 2010, e nesse período muito do projeto original de Lina foi afetado. Não é possível visitá-la, no momento.
1958/68: MASP
O Museu de Arte de São Paulo, conhecido como MASP, é uma criação brilhante da arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi. Este museu, situado na movimentada Avenida Paulista, transcende seu papel convencional como uma instituição cultural.
Com sua arquitetura ousada e inovadora, o MASP se transformou em um local cívico, mirante e espaço público icônico da cidade. Fundado em 1947 pelo empresário Assis Chateaubriand, o MASP se tornou o primeiro museu moderno do Brasil.
Pietro Maria Bardi foi convidado para dirigir o museu, enquanto Lina Bo Bardi liderou o projeto arquitetônico e expográfico.
Hoje, o MASP abriga uma das maiores coleções de arte europeia do Hemisfério Sul, com mais de 11 mil obras, abrangendo diversos períodos e continentes.
Lina Bo Bardi usou concreto e vidro para criar uma estrutura que combina robustez com leveza e transparência. A esplanada sob o edifício, conhecida como "vão livre," foi projetada como uma praça pública, disponível para a comunidade.
A visão radical de Lina também se manifesta nos cavaletes de cristal, que suspenderam a expografia no segundo andar.
Ao retirar as obras das paredes, eles desafiaram o modelo tradicional de museu europeu, permitindo que os visitantes escolhessem seu próprio caminho entre as obras, interagindo mais intimamente com o acervo.
O MASP adotou uma nova missão em 2017, tornando-se um museu diverso, inclusivo e plural. Seu objetivo é criar diálogos críticos e criativos entre passado e presente, culturas e territórios por meio das artes visuais.
Além das exposições, o museu oferece programas públicos, seminários, palestras mensais, cursos e exibições de filmes.
O MASP é muito mais do que um museu de arte. É um monumento arquitetônico, um espaço público vital e um motor de diálogo cultural em São Paulo.
1982: Sesc Pompeia - A Fábrica da Pompeia
Muitas pessoas passam e frequentam o Sesc Pompeia e talvez não saibam que ele projetado por Lina Bo Bardi. Muitos também não sabem que lá, um dia, realmente foi uma fábrica.
A área construída em 1938 era ocupada pela empresa alemã de tambores Mauser & Cia LTDA.
Em 1945 o espaço foi comprado e utilizado pela Indústria Brasileira de Embalagens como uma fábrica de geladeiras e querosene. Por fim, em 1973 o Sesc adquiriu a área e Lina foi escolhida para redesenhar os prédios.
O Sesc, Serviço Social do Comércio, é uma entidade privada que tem como objetivo proporcionar o bem-estar e a qualidade de vida aos trabalhadores deste setor e sua família.
Mantido pelos empresários do comércio de bens, turismo e serviços, o Sesc traz desde 1946 intensa atuação no campo da cultura e lazer.
Hoje, nas suas unidades espalhadas por todo o Brasil, o Sesc tem atividades esportivas, teatrais, eventos e muito mais em atividades abertas ao público ou voltada para os beneficiários trabalhadores do comércio de bens, turismo e serviços que têm a credencial plena.
Lina respeitou a origem fabril do edifício mantendo os tijolos não revestidos, as tubulações aparentes, ausência de forro e os detalhes de ferro que foram pintados de vermelho.
Além disso, o caráter popular foi mantido, com espaços para interação.
Em 1982 o Sesc Pompei foi parcialmente inaugurado e em 1986 todo o complexo estava pronto. Janelas irregulares e grandes espaços abertos permitem que a luz e a ventilação circule no ambiente.
Uma curiosidade da construção é que Lina descobriu durante as obras que por ali passava o córrego Água Preta. Impossibilitada de construir naquela região, Lina criou um deck de madeira irregular que simula o percurso do córrego, deixando o espaço ainda alinhado ao seu modo natural.
Endereço: R. Clélia, 93, Água Branca, São Paulo/SP
Contato: (11) 3871-7700
Funcionamento: Segundas fechado; terças a sábados das 10h00 às 22h00 e domingos das 10h00 às 19h00.
Ingressos: O acesso é gratuito. Porém, para atrações é necessário agendamento ou compra de ingressos que pode ser feito no site oficial.
Quer descobrir mais atrações arquitetônicas em Sampa? Veja: São Paulo para quem ama arquitetura: veja o roteiro!
1982: MAM - Museu da Arte Moderna de São Paulo
Situado sob a majestosa marquise do Parque Ibirapuera, na cidade de São Paulo, esse edifício faz parte do complexo arquitetônico concebido por Oscar Niemeyer em 1954.
Em 1982, Lina Bo Bardi liderou uma reforma notável, adaptando-o para abrigar o museu em sua forma atual.
Essa colaboração entre dois dos mais influentes arquitetos brasileiros resultou em um marco arquitetônico que harmoniza o modernismo distintivo de ambos.
A fachada espelhada e o desenho circular da estrutura são representações vívidas dessa sinergia.
O Museu de Arte Moderna de São Paulo, ou MAM, como é popularmente conhecido, é hoje um dos museus mais visitados da cidade e permanece como um símbolo de excelência na arquitetura e na apreciação das artes.
Endereço: Av. Pedro Álvares Cabral, s/n°, Vila Mariana, São Paulo/SP
Contato: (11) 5085-1300
Funcionamento: Fechado as segundas. Terças a domingos das 10h00 às 18h00.
Ingressos: Inteira R$ 30,00 e meia R$ 15,00. Gratuito aos domingos.
Ingressos podem ser adquiridos no site oficial.
1992/1994: Teatro Oficina
E para fechar, nada como exibir aqui um dos últimos projetos da vida e carreira de Lina Bo Bardi: o Teatro Oficina.
Construído na década de 60, o local era um verdadeiro polo de cultura na cidade de São Paulo. Com seu visual industrial, ele contemplou diversos movimentos que estavam fervorosos nessa época. Foi nele que nasceu o movimento Tropicália, por exemplo.
Em 1966 houve um incêndio no local, que alterou a arquitetura do espaço (que nunca mais voltou a ser a mesma de antes).
Em 1990, Lina usou sua experiência com o MASP para propor mudanças significativas ao ambiente. Ela investiu em grandes paredes de vidro – marca registrada da arquiteta – e deixou um local mais aberto e fluido para a passagem.
O espaço é aberto ao público e recebe mostras, exibição de filmes e visitantes que queiram conhecer o trabalho da arquiteta de perto.
Endereço: Rua Jaceguai, 520, Bela Vista, São Paulo/SP
Contato: (11) 3106-2818
Funcionamento: A depender das peças em cartaz.
Ingressos: Os preços variam de acordo com a peça em cartaz e podem ser comprados no site oficial.
Roteiro para conhecer as obras de Lina em São Paulo:
- Casa de Vidro: Comece seu roteiro na Casa de Vidro, localizada na Rua General Almério de Moura, 200 - Morumbi, São Paulo.
- SESC Pompeia: Em seguida, siga para a Rua Clélia, 93 - Pompeia, São Paulo. Este é um complexo cultural notável projetado por Lina Bo Bardi em uma antiga fábrica.
- MASP (Museu de Arte de São Paulo): Continue sua jornada até o MASP, localizado na Avenida Paulista, 1578 - Bela Vista, São Paulo. Explore a impressionante arquitetura do museu e sua coleção de arte.
- Teatro Oficina: O próximo destino fica na Rua Jaceguai, 520 - Bela Vista, São Paulo. Este é um espaço teatral icônico projetado por Lina Bo Bardi e cenário de diversas produções teatrais inovadoras.
- MAM - Museu de Arte Moderna de São Paulo: Finalize seu roteiro no Parque Ibirapuera - Av. Pedro Álvares Cabral, s/n - Vila Mariana, São Paulo. Este museu conta com uma coleção de arte moderna e contemporânea e é um local cultural importante na cidade.
Veja a localização de todos esses pontos na nossa lista Lina Bo Bardi em São Paulo no Google Maps!
Lembre-se de verificar os horários de funcionamento e a disponibilidade de visitas guiadas em cada local. Além disso, aproveite a oportunidade para explorar os bairros circundantes e desfrutar da cultura e gastronomia de São Paulo durante sua jornada.
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A passagem de Lina em Salvador
Famosa por suas contribuições notáveis em São Paulo, como o MASP e a Casa de Vidro, Lina Bo Bardi também deixou um impacto significativo em Salvador, Bahia, durante as décadas de cinquenta e oitenta.
A história começa em 1958, quando Lina Bo Bardi chegou a Salvador para ministrar três palestras na Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Rapidamente, ela foi convidada a assumir a direção do MAM-BA, que anteriormente estava localizado no Teatro Castro Alves.
Nesse período de intensa atividade cultural na Bahia, a italiana estabeleceu relações próximas com figuras notáveis, incluindo o artista Mario Cravo Jr., o cineasta Glauber Rocha, Odorico Tavares e o diretor da Escola de Teatro da UFBA, Eros Martim Gonçalves.
Ela explorou o interior do estado, desde o Recôncavo baiano até o sertão, estudando festas populares, procissões e até a Guerra de Canudos.
Essa experiência enriquecedora se reflete em seus projetos na capital baiana, todos permeados pela vanguarda e enraizados na cultura popular.
Lina Bo Bardi executou projetos de reestruturação no Centro Histórico de Salvador e contribuiu com o design do espaço cerimonial da Casa Ilê Asé Oyá.
Ela desenvolveu um profundo entendimento da cultura e do artesanato baianos, consolidando-se como uma referência na cidade.
Vamos explorar suas obras?
1963: Casa do Chame-Chame
Essa foi a primeira obra da arquiteta ítalo-brasileira em Salvador. Foi projetada para um advogado na Rua Plínio Moscoso, na Barra. A casa, com um design modernista, foi construída em torno de uma majestosa jaqueira.
Apresentava uma forma arredondada com cantos suaves, cercada por uma rampa que conduzia à garagem. Infelizmente, restam apenas fotografias da Casa do Chame Chame, pois, em 1984, a residência deu lugar a um edifício.
O que torna essa criação notável é o fato de que Lina Bo Bardi desempenhou um papel decisivo na seleção do terreno para o advogado no bairro de Chame-Chame, em Salvador.
Ela se encantou com a imponente jaqueira e convenceu o casal a adquirir o terreno. A casa se harmonizava perfeitamente com a jaqueira e, por esse motivo, ficou conhecida como a "Casa de Pedra".
O ambiente era abundantemente coberto por vegetação, refletindo a influência das experiências de Lina em suas viagens.
Detalhes únicos, como a reutilização de objetos descartados que ela incorporou nos muros da casa, bonecas quebradas, conchas, fragmentos de louça e outras curiosidades adornavam a fachada e os muros.
1963: Solar do Unhão - Museu de Arte Moderna (MAM-BA)
A restauração do Solar do Unhão é um dos feitos mais notáveis de Lina Bo Bardi em Salvador. Esse antigo engenho colonial, com vista deslumbrante para a Baía de Todos os Santos, foi transformado por ela na sede do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA) em 1963.
A visão da arquiteta era ambiciosa - ela desejava criar um museu de arte popular, uma ideia revolucionária para a sociedade conservadora da época. Sua determinação em seguir esse caminho resultou na sua demissão do cargo um ano depois.
O Solar do Unhão, um casarão colonial com amplas janelas para ventilação natural, é notável pelos amplos espaços vazios, uma característica distintiva do estilo de Lina Bo Bardi. Uma escada de madeira icônica, que surpreende pela ausência de pregos ou parafusos, é sustentada por tarugos semelhantes aos usados em carros de boi.
Lina Bo Bardi não se limitou à restauração dos prédios nobres, como o casarão e a Capela Nossa Senhora da Conceição, mas também realizou intervenções nos galpões que outrora serviam como senzalas e nos trapiches que sustentam o píer.
O MAM-BA, com sua abordagem única, desafiou o conceito tradicional de museu, uma vez que não possui um acervo, levando a arquiteta a declarar que seria mais apropriado chamá-lo de "Centro, Movimento, Escola.".
Em janeiro de 2022, após 62 anos da criação do MAM-Bahia, foi inaugurado o "Espaço Lina" nas instalações do museu.
Essa iniciativa representa um marco para a cidade de Salvador, pois agora os baianos, turistas, pesquisadores e admiradores de Lina Bo Bardi têm um espaço dedicado a ela e ao seu legado.
Depois da restauração do MAM-BA a carreira de Lina teve reviravoltas políticas. Com a chegada do golpe militar, ela foi demitida e obrigada a se mudar para São Paulo, sob suspeita de envolvimento com o comunismo.
Endereço: Av. Lafayete Coutinho, s/n - Comercio, Salvador/BA
Contato: (71) 3117-6132
Funcionamento: Segundas fechado; terças a domingo das 10h00 às 18h00.
Ingressos: A entrada para o MAM é gratuita. Porém, as atividades de cinema na Saladearte e o JAM no MAM são pagos.
Década de 80: Reestruturação do Centro Histórico
Depois do período da ditadura, Lina retorna para Salvador na década de 80. Nessa época, Gilberto Gil atuava como secretário de Cultura de Salvador e buscava recuperar os prédios e espaços do Centro Histórico.
Junto com João Filgueiras Lima, o Lelé, Lina elaborou o o Plano de Revitalização do Centro Histórico da cidade, começando pelo projeto-piloto da Ladeira da Misericórdia, que liga a prefeitura à cidade baixa de Salvador.
Na época, a Ladeira da Misericórdia tinha perdido sua importância devido a inauguração da Ladeira Montanha em 1885.
Lelé e Lina pensavam o centro da capital baiana como um projeto de habitação e geração de renda, sempre questionando o impacto na sociedade e como a população poderia usufruir desses patrimônios.
Na Ladeira da Misericórdia também está a Casa Coaty, que foi concebido por Lina como um restaurante. A obra ocorreu entre 1987 e 1989 e utilizou as fibras da folha de capim-palmeira que viraram placas plissadas de argamassa em paredes erguidas ao redor de uma árvore, uma cobertura que filtra em tons verdes a entrada da luz.
Vãos abertos em formas circulares ao redor da construção fazem as vezes de janelas com vistas para o Elevador Lacerda e a parte baixa de Salvador.
Uma saída lateral, por uma escada, leva ao terraço voltado para o Forte de São Marcelo, no meio do mar, cujo formato circular inspirou Bo Bardi.
O projeto, por razões políticas, sequer foi inaugurado, e Lina Bo Bardi morreu sem ver o Coaty ocupado. Infelizmente, dos outros casarões reformados por Lina nessa região apenas dois são ocupados atualmente como alojamento policial.
Outra obra de Lina no Centro Histórico de Salvador foi a Casa do Benin, projetada com Lelé e outros arquitetos em 1987. O sobrado, no Pelourinho, vira uma mescla de influências históricas, africanas e modernistas.
A ideia era fazer uma Casa do Benin na Bahia e uma Casa da Bahia no Benim. As duas chegaram a ser projetadas, mas só a brasileira foi executada.
Hoje, a Casa do Benin é um centro cultural e museu de arte tradicional do país africano, onde sua famosa escada de concreto e o uso de pilotis em vez de colunas pesadas fazem os traços modernos dialogarem com a estrutura secular do casarão de três andares.
Os traços da italiana também estão presentes no Teatro Gregório de Mattos, onde ela abriu uma janela escancarada que representa a garganta do poeta satírico virada para a Praça Castro Alves e construiu uma arena sem palco fixo, um espaço vazado que se move de acordo com cada obra apresentada no edifício de curvas externas.
Na Casa Olodum, hoje já descaracterizada, ela conservou as características externas do casarão do século XVII e apostou em um interior moderno, projetado em forma de pirâmide, com parte da cobertura de vidro, permitindo a entrada de luz natural.
Por fim, outro presente para a arquitetura soteropolitana foi o desenho do espaço de cerimônias do terreiro de candomblé Ilê Asé Oyá em Pirajá, que Lina deu à ialorixá Mãe Santinha de Oyá, uma das mais importantes da Bahia.
Roteiro para conhecer as obras de Lina em Salvador:
- Casa do Benin: Inicie seu roteiro na Rua Padre Lourenço, 39 - Pelourinho, Salvador. Esta é uma das obras de Lina Bo Bardi em Salvador e abriga exposições relacionadas à cultura afro-brasileira.
- Ladeira da Misericórdia: ainda no centro histórico, siga para a Ladeira da Misericórdia e aproveite para ver a Casa Coaty;
- Teatro Gregório de Mattos: Continue sua jornada até a Praça Castro Alves, s/n - Centro, Salvador. Este teatro é parte do complexo cultural que inclui o MAM-BA e apresenta uma arquitetura única.
- Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA): Em seguida, siga para a Avenida Contorno, s/n - Solar do Unhão, Salvador. Este museu, projetado por Lina Bo Bardi, é um marco da arquitetura moderna e abriga uma coleção impressionante de arte contemporânea.
- Solar do Unhão: Finalize seu roteiro com uma visita ao Solar do Unhão, que faz parte do Museu de Arte Moderna da Bahia. Este local oferece uma vista deslumbrante da Baía de Todos os Santos e é um ótimo lugar para apreciar a cultura e a história de Salvador. Se a visita for em um sábado, verifique se haverá o JAM no MAM, uma festival de Jazz no MAM. A inteira custa R$ 10,00 e a meia R$ 5,00.
- Extra: se puder, visite o Terreiro Ilê Asé Oyá em Pirajá!
Veja a localização de todos esses pontos na nossa lista Lina Bo Bardi em Salvador no Google Maps!
Certifique-se de verificar os horários de funcionamento e a disponibilidade de visitas guiadas em cada local. Além disso, aproveite a oportunidade para explorar os bairros históricos de Salvador e saborear a culinária local durante sua jornada.
Viagem marcada para Salvador? Saiba o que explorar na capital baiana! (inserir link após publicação do artigo de Salvador)
Neste passeio arquitetônico por São Paulo e Salvador, mergulhamos no universo criativo de Lina Bo Bardi, uma visionária da arquitetura e do design que deixou um legado inestimável.
Desde a icônica Casa de Vidro, que flui em perfeita harmonia com a natureza, até o emblemático MASP, que desafia a concepção tradicional de museus, suas obras nos convidam a repensar o espaço, a luz e a interação humana.
Em Salvador, Lina nos presenteia com sua Casa do Benin e o Museu de Arte Moderna da Bahia, ambos reflexos da profunda conexão com a cultura e a identidade brasileira. Cada local é mais que uma estrutura arquitetônica; são espaços de diálogo, celebração e reflexão.
Essas obras transcendem sua função original, evocando emoções e inspirando um apreço renovado pela arquitetura que respeita o ambiente e a história.
Ao seguir este roteiro, você não apenas visita locais arquitetônicos impressionantes, mas também experimenta a visão única de Lina Bo Bardi - uma fusão cativante de forma, função e humanidade.
Boa exploração!