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Por Antonia Beatriz Pires • Real Seguro Viagem em 27/11/24 às 12:11.

Turismo Afro-Religioso: uma jornada de fé, cultura e história no Brasil!

O turismo afro-religioso tem ganhado destaque nos últimos anos, promovendo o reconhecimento e a valorização das culturas de matriz africana no Brasil.

Mais do que uma viagem, é uma experiência que conecta fé, ancestralidade e resistência, permitindo que visitantes mergulhem em tradições carregadas de significado histórico e espiritual.

Esse movimento vai além da exploração de templos e rituais: ele oferece um olhar profundo sobre a cultura afro-brasileira e como ela moldou nosso país.

Neste artigo, vamos explorar as bases do turismo afro-religioso, compreender o impacto das religiões afro-brasileiras e destacar roteiros e destinos incríveis para quem busca uma jornada enriquecedora.

É importante imergir na história da nossa cultura (Imagem: Reprodução/Canva)

O que são as religiões afro?

As religiões afro englobam diversas práticas espirituais oriundas do continente africano, com destaque para aquelas que se desenvolveram em meio ao contexto da diáspora forçada pelo tráfico transatlântico de escravizados. No Brasil, essas religiões se mesclaram com elementos indígenas e europeus, formando tradições únicas e ricas em simbolismos.

Candomblé

O Candomblé é uma das mais conhecidas religiões afro-brasileiras, tendo suas raízes em nações africanas como os iorubás, jejes e bantus. Essa prática religiosa valoriza o culto aos orixás, que são divindades relacionadas a elementos da natureza e forças espirituais.

Os rituais do Candomblé envolvem danças, cantos em línguas africanas e oferendas para os orixás. As casas de culto, chamadas terreiros, são espaços sagrados onde ocorre o aprendizado da tradição e o fortalecimento da comunidade. Essa religião também desempenhou um papel crucial na preservação da identidade africana no Brasil.

Umbanda

A Umbanda surge no início do século XX, como uma fusão entre elementos do Candomblé, do espiritismo kardecista e do catolicismo. Diferente do Candomblé, a Umbanda é considerada uma religião sincrética, com entidades espirituais que atendem às necessidades dos fiéis.

Os rituais são realizados em centros, e as práticas variam conforme a vertente. Essa diversidade reflete a riqueza da Umbanda, que promove mensagens de amor, caridade e respeito

Quimbanda

A Quimbanda, muitas vezes mal interpretada, é uma prática que também tem raízes africanas. Ela foca na comunicação com entidades chamadas Exus e Pombagiras, ligadas ao mundo material e à resolução de problemas práticos.

Apesar de ser alvo de preconceitos, a Quimbanda é uma expressão espiritual legítima e parte importante do mosaico das religiões afro.

O que é a religião afro-brasileira?

A religião afro-brasileira é muito mais do que um conjunto de práticas espirituais: é um símbolo de resistência, identidade e ancestralidade. Essas tradições nasceram do encontro entre as culturas africanas trazidas ao Brasil durante o período da escravidão, os saberes indígenas e as imposições do catolicismo europeu. 

Apesar do ambiente de violência e repressão, os povos africanos escravizados recriaram seus universos religiosos, preservando suas crenças e transformando-as em potentes ferramentas de luta e afirmação.

Como destaca a antropóloga e escritora Beatriz Nascimento, a espiritualidade afro-brasileira é "um ato contínuo de construção de memória coletiva", que resiste à tentativa de apagamento histórico e mantém viva a relação com a ancestralidade africana. Nesse sentido, as religiões afro-brasileiras não apenas sobrevivem, mas se reinventam, afirmando-se como práticas que unem o espiritual e o político.

Para a filósofa Sueli Carneiro, essas religiões também desempenham um papel importante na emancipação de mulheres negras, que muitas vezes ocupam posições de liderança nos terreiros, como mães-de-santo. Esses espaços, segundo Carneiro, representam não apenas centros religiosos, mas também lugares de fortalecimento comunitário e valorização da cultura afro-brasileira.

Saiba sobre a cultura afro-religiosa no Brasil (Imagem: Adobe Stock)

Como as religiões afro-brasileiras se desenvolveram no Brasil?

O desenvolvimento das religiões afro-brasileiras está diretamente ligado à história de opressão e luta enfrentada pelos povos africanos e seus descendentes no Brasil. Durante o período colonial, a prática de religiões africanas era severamente reprimida. 

Para escapar da perseguição, os escravizados sincretizaram suas divindades com santos católicos, criando um disfarce para continuar praticando sua fé. Assim, orixás como Oxum e Iemanjá passaram a ser associados a figuras como Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora das Candeias.

Esse sincretismo, no entanto, não deve ser visto apenas como uma estratégia de sobrevivência. Como aponta a pesquisadora Larissa Santiago, trata-se também de um "processo de recriação simbólica", no qual os povos negros reinterpretaram elementos da cultura europeia, ressignificando-os para atender às suas demandas espirituais e culturais.

Os terreiros, mais do que espaços religiosos, tornaram-se verdadeiros refúgios de resistência cultural e social. Neles, as lideranças preservaram línguas, músicas, danças e tradições africanas, transmitindo esses saberes de geração em geração. Como explica a historiadora e escritora Conceição Evaristo, "os terreiros guardam a memória de um povo que, mesmo destituído de tudo, manteve sua humanidade pela força da espiritualidade".

Essa capacidade de adaptação e resistência foi crucial para que as religiões afro-brasileiras não apenas sobrevivessem, mas também se fortalecessem, tornando-se parte integral da identidade brasileira. Hoje, práticas como o Candomblé, a Umbanda e o Tambor de Mina são reconhecidas como patrimônios culturais que carregam as marcas da luta e da resiliência de seus adeptos.

Roteiro e lugares para explorar o turismo afro-religioso:

O turismo afro-religioso no Brasil é um convite de coração aberto para a espiritualidade e celebração cultural. A seguir, fiz alguns detalhamos de cidades e regiões que oferecem experiências únicas, enriquecendo a conexão entre passado, presente e fé. É importante abrir o coração, vestir-se de respeito e experenciar essa riqueza.

Roteiro completo e com dicas incríveis! (Imagem: Adobe Stock)

Salvador - O epicentro da cultura afro-brasileira

Salvador, conhecida como a “Roma Negra”, é um dos lugares mais emblemáticos para vivenciar o turismo afro-religioso. A cidade é um mosaico de tradições afro-brasileiras que resistiram e floresceram em meio à opressão colonial.

1. Terreiros de Candomblé

Os terreiros de Salvador são mais do que espaços de culto; eles representam séculos de resistência e preservação cultural. O Ilê Axé Opô Afonjá, fundado em 1910, é um exemplo clássico, reconhecido como patrimônio histórico. O Terreiro do Gantois, fundado em 1849, destaca-se pela liderança histórica de Mãe Menininha do Gantois, uma das figuras mais influentes da religião afro-brasileira.

2. Pelourinho: um mergulho na história

No coração de Salvador, o Pelourinho é uma viagem no tempo. As ruas de paralelepípedos guardam marcas da escravidão, enquanto a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos simboliza a resiliência dos africanos escravizados que a construíram.

3. Festas populares

A Festa de Iemanjá transforma o Rio Vermelho em um espetáculo de devoção e cultura, com milhares de oferendas entregues ao mar. A Lavagem do Bonfim, por sua vez, é uma celebração que une elementos católicos e do Candomblé, mostrando o sincretismo religioso que marca a identidade baiana.

Cachoeira e o Recôncavo Baiano - Tradição e resistência

A cidade de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, é um santuário de memória e ancestralidade.

1. Irmandade da Boa Morte

A Festa da Boa Morte, organizada pela Irmandade da Boa Morte, é um dos eventos mais importantes do calendário afro-religioso brasileiro. Formada exclusivamente por mulheres negras, a confraria celebra a resistência feminina e a preservação das tradições afro-brasileiras.

2. Terreiros e comunidades quilombolas

A região abriga terreiros históricos e comunidades quilombolas como a comunidade de Santiago do Iguape, que oferece experiências autênticas para quem deseja se aprofundar na cultura afro-brasileira.

3. Cultura do Recôncavo

Além das práticas religiosas, o Recôncavo é conhecido por sua culinária, como o acarajé e o vatapá, que carregam influências africanas em cada sabor.

Rio de Janeiro - Pequena África e o legado ancestral

O Rio de Janeiro é uma cidade profundamente marcada pela presença africana, especialmente na região conhecida como Pequena África.

1. Cais do Valongo

Reconhecido como Patrimônio Mundial da UNESCO, o Cais do Valongo é um local de memória e resistência. Foi o maior porto de entrada de africanos escravizados nas Américas, e hoje é um espaço de reflexão sobre a diáspora e suas contribuições.

2. Museu de Arte do Rio (MAR)

O MAR frequentemente abriga exposições que destacam a influência africana na cultura brasileira, incluindo peças ligadas à religiosidade e à resistência negra.

3. Festividades afro-religiosas

A Festa de São Sebastião, embora católica, tem fortes influências afro-brasileiras, com procissões e celebrações que mostram o sincretismo típico da região.

Maranhão - O tambor de mina e o culto aos voduns

No Maranhão, a religiosidade afro-brasileira se manifesta de forma singular, com o Tambor de Mina, que tem raízes na cultura jeje.

1. Casa das Minas

A Casa das Minas, em São Luís, é uma das mais antigas casas de culto afro-brasileiro. O local é dedicado aos voduns, divindades da tradição jeje, e preserva rituais que remontam ao período colonial.

2. Festa do Divino Espírito Santo

Essa festa é um exemplo de sincretismo religioso, misturando elementos do catolicismo e das tradições afro-brasileiras. É uma experiência única que conecta fé e cultura.

3. Quilombos do Maranhão

O estado também abriga diversas comunidades quilombolas, onde os visitantes podem aprender sobre a luta por liberdade e os costumes que resistem ao tempo.

Recife e Olinda - Fé e cultura no Nordeste

As cidades irmãs de Recife e Olinda são destinos vibrantes para explorar as conexões entre espiritualidade e ancestralidade afro-brasileira.

1. Terreiro Axé Talabí

Fundado no século XIX, o terreiro é um dos mais antigos de Pernambuco e um símbolo da preservação do Candomblé na região.

2. Maracatu e tradição afro

O Maracatu de Baque Virado, originário do culto aos orixás, é uma manifestação cultural que une música, dança e religiosidade. Participar de um cortejo é uma experiência inesquecível.

3. Festa do Morro da Conceição

Essa celebração reúne milhares de fiéis e exemplifica o sincretismo entre as religiões afro-brasileiras e o catolicismo.

São Paulo - A força das tradições afro na metrópole

Apesar de ser conhecida como uma cidade cosmopolita, São Paulo tem uma forte presença das tradições afro-brasileiras.

1. Museu Afro Brasil

O Museu Afro Brasil, localizado no Parque Ibirapuera, é uma verdadeira aula sobre a contribuição africana para a formação do Brasil, com destaque para a religiosidade.

2. Festivais e encontros

A Feira Preta e o Encontro das Yabás são exemplos de eventos que celebram a ancestralidade e promovem práticas religiosas afro-brasileiras.

3. Terreiros urbanos

Terreiros como o Ilê Alaketu e o Ile Axé Opó Aganju oferecem vivências que vão além dos rituais, conectando os visitantes às histórias de resistência e fé.

Bom viajante. Espero que tenha gostado desse artigo que foi preparado com muito carinho. Aproveite, vá com o coração aberto e boa viagem! <3